Dr. Matheus Vanzin Fernandes

  • Matheus

    Dr. Matheus Vanzin Fernandes

    10/09/2024

Eventualmente pacientes que estão em investigação de quadros de diarreia acabam realizando um exame de fezes chamado elastase pancreática fecal e o mesmo vem reduzido. Esse quadro não é tão frequente na prática clínica, mas quando presente costuma gerar dúvidas nos pacientes. Vamos entender melhor o que é a elastase pancreática fecal?

A elastase é uma enzima digestiva produzida pelo pâncreas e liberada no intestino para auxiliar na digestão. Como ela é liberada no intestino, em situações normais a elastase se mistura com as fezes e sua dosagem nas fezes encontra-se em níveis adequados. Isso significa que o pâncreas está cumprindo bem o seu papel, que é o de formar a elastase.

Em um cenário onde o pâncreas está com um problema no seu funcionamento, a produção de elastase fica reduzida e, dessa forma, a elastase liberada no intestino diminui. Assim, quando o paciente realiza o exame chamado elastase pancreática fecal, ou seja, a quantificação nas fezes da elastase pancreática, o valor desse exame encontra-se reduzido. Tal alteração sugere que o paciente possa estar apresentando um quadro chamado de Insuficiência Pancreática Exócrina, uma condição em que o pâncreas não consegue produzir enzimas digestivas suficientes para realizar a digestão de maneira eficaz.

Elastase, Elastase pancreática fecal

Por que os níveis de elastase pancreática fecal podem estar alterados?

A Insuficiência Pancreática Exócrina, ou seja, o mau funcionamento do pâncreas, é a principal causa de níveis baixos de elastase fecal. Essa condição pode estar relacionada a uma série de doenças e situações que afetam o pâncreas, incluindo:

  1. Pancreatite Crônica: a inflamação contínua do pâncreas, geralmente em decorrência do consumo crônico de álcool, pode danificar suas células e resultar em um dano irreversível ao pâncreas, cluminando em uma produção inadequada de enzimas digestivas, como a elastase.
  2. Fibrose Cística: essa doença genética afeta várias glândulas do corpo, incluindo o pâncreas, comprometendo a produção e liberação de enzimas pancreáticas.
  3. Diabetes Mellitus: em alguns casos, o diabetes em fases mais avançadas, principalmente do tipo 1, pode estar associado à insuficiência exócrina do pâncreas.
  4. Ressecção Pancreática: pacientes que passaram por cirurgias que removem parte do pâncreas podem apresentar deficiência na produção de elastase, pois o pâncreas residual pode ser insuficiente para produzir as enzimas necessárias.
  5. Síndrome de Shwachman-Diamond: um distúrbio genético raro que afeta a função do pâncreas e pode resultar em insuficiência pancreática.

O que um paciente com Insuficiência Pancreática Exócrina sente?

Os pacientes onde o pâncreas está danificado e já não consegue produzir elastase pancreática em níveis adequados apresentarão níveis baixos de elastase pancreática nas fezes. Como dito antes, isso significa que o pâncreas não está conseguindo produzir elastase em níveis adequados e por consequência a liberação dessa elastase no intestino fica prejudicada. Um intsetino com pouca elastase enfrenta dificuldades no processo de digestão e, dessa forma, os pacientes manifestam sintomas relacionados à má digestão e absorção de nutrientes. Entre os principais sintomas, destacam-se:

  • Diarreia: uma vez que a digestão de gorduras fica muito comprometida pela falta de elastase, os pacientes podem apresentar esteatorreia, que seria uma diarreia líquida e gordurosa/oleosa, de difícil eliminação e com odor forte.
  • Perda de peso: mesmo com uma dieta adequada, a queda da elastase resulta em redução na absorção de nutrientes, causando perda de peso inexplicada.
  • Deficiências nutricionais: além disso, a má absorção de vitaminas lipossolúveis (vitamina A, D, E e K) é comum nesses pacientes, o que pode levar a uma série de problemas, como osteoporose (enfraquecimento dos ossos) e coagulopatias (sangramentos).

Como é feito o diagnóstico?

A avaliação clínica minuciosa do paciente é extremamente fundamental. Eu sempre busco elucidar bem dados da história clínica que me permitam pensar nesse diagnóstico como uma possibilidade. Uma vez que o paciente apresente sinais e sintomas compatíveis com o diagnóstico de Insuficiência Pancreática Exócrina na história clínica e no exame físico, eu questiono ativamente sobre os fatores de risco que podem estar associados com esse diagnóstico, como o alcoolismo, o diabetes ou até mesmo cirurgias prévias do pâncreas.

Feito esse processo inicial de avaliação pormenorizada do paciente, o diagnóstico pode ser fortemente sugerido a partir de níveis de elastase pancreática fecal abaixo de 200 µg/g. Mas além disso, é extremamente importante uma avaliação por imagem do pâncreas, para ajudar a corroborar o diagnóstico e excluir outras possibilidades.

Tratamento e cuidados

Uma vez confirmado o diagnóstico de Insuficiência Pancreática Exócrina, o tratamento consite em algumas medidas, como:

  • Suplementação enzimática: uma vez que o pâncreas não está funcionando adequadamente, é preciso repor a enzima que ele não está produzindo através de uma reposição enzimática. Esse tratamento permite que o paciente melhore dos sintomas, mas também evita a desnutrição e a perda de peso, uma vez que melhora a absorção de nutrientes e vitaminas.
  • Dieta ajustada: é super importante o acompanhamento conjunto com um nutricionista especialista em doenças pancreáticas para garantir uma dieta equilibrada, rica em nutrientes e, em alguns casos, com redução de gorduras, dependendo da gravidade dos sintomas. Aqui no meu consultório eu atendo os pacientes com Insuficiência Pancreática Exócrina conjuntamente com nossa Nutricionista especializada no assunto, de modo que os casos são discutidos conjuntamente antes de passarmos as orientações ao paciente – isso ajuda muito na condução do tratamento.
  • Acompanhamento médico: o acompanhamento regular com um Gastroenterologista é essencial para monitorar a eficácia do tratamento e ajustar as doses das enzimas, se necessário. Exames periódicos são necessários para esse ajuste de tratamento.
Elastase, Elastase pancreática fecal

Se você apresenta sintomas que sugerem insuficiência pancreática exócrina ou tem níveis alterados de elastase fecal, é importante buscar ajuda médica para uma avaliação detalhada e um plano de tratamento adequado.

Perguntas Frequentes

1. O que é elastase pancreática fecal e qual sua função no corpo?
A elastase pancreática fecal é uma enzima produzida pelo pâncreas e liberada no intestino delgado, onde desempenha um papel crucial na digestão de proteínas. Nas fezes, seus níveis refletem a capacidade do pâncreas de produzir enzimas digestivas. Níveis normais indicam um pâncreas saudável, enquanto níveis baixos sugerem insuficiência pancreática exócrina.

2. Quem deve realizar o teste de elastase pancreática fecal?
O teste é indicado para pessoas com sintomas de má digestão, como diarreia crônica, perda de peso inexplicada, fezes gordurosas ou deficiências nutricionais, além de pacientes com doenças que afetam o pâncreas, como pancreatite crônica, fibrose cística ou após ressecção pancreática. Ele ajuda a confirmar ou descartar insuficiência pancreática exócrina.

3. Como o exame de elastase pancreática fecal é realizado?
O teste é feito através da coleta de uma pequena amostra de fezes. A análise laboratorial mede a quantidade de elastase presente. Por ser um exame não invasivo e simples, ele é amplamente utilizado para diagnosticar disfunções pancreáticas exócrinas.

4. Quais fatores podem interferir nos resultados do teste de elastase fecal?
Alguns fatores podem interferir na precisão do teste, como diarreia grave, uso de laxantes, e presença de doenças gastrointestinais que afetam a produção ou o trânsito intestinal, como a doença celíaca não tratada. Esses fatores podem diluir as fezes e, consequentemente, reduzir falsamente os níveis de elastase.

5. Quais são os valores normais de elastase pancreática fecal?
Valores acima de 200 µg/g nas fezes são considerados normais e indicam uma função pancreática adequada. Valores entre 100-200 µg/g indicam uma leve insuficiência pancreática exócrina, enquanto valores abaixo de 100 µg/g sugerem uma insuficiência exócrina grave.

6. Como a insuficiência pancreática exócrina afeta a absorção de nutrientes?
A insuficiência pancreática exócrina reduz a quantidade de enzimas digestivas no intestino, dificultando a digestão e absorção de nutrientes, especialmente gorduras. Isso pode levar à má absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K), causando deficiências nutricionais e sintomas como osteoporose, problemas de coagulação e fraqueza geral.

Matheus Vanzin Fernandes – Doctoralia.com.br

Você também pode se interessar por…

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *